top of page

Séculos de Repressão

Deusa Ísis

Séculos de repressão do corpo e de identificação do prazer com o pecado ou o proibido fizeram uma espécie de cárie na alma.


É um buraco, um vazio, uma impossibilidade viver o que se quer, uma certeza antecipada de que o amor verdadeiro gera ou arrependimento ou frustração.


Viver implica, pois, aceitar essa dolorosa e desafiante tarefa: a de enfrentar o amor como a maior das maravilhas, e que se nos apresenta sob a forma de enigma.


Tudo o que se move dentro do amor está carregado de enigmas. E com o enigma dá-se o seguinte: enfrentá-lo não é resolvê-lo. Mas, quando não se o enfrenta, ele (enigma) nos devora.


Enfrentar o enigma mesmo sem o deslindar, é aquecer e encantar a vida, é aprender a viver; é amadurecer. Exige trabalho interior penoso, grandeza, equilíbrio e autoconhecimento.


O contrário não é viver: é durar.


O amor é uma forma perfeita de liberdade, consciência e participação. Ele será mais necessário do que nunca, para compreender os espasmos de uma era em agonia e de um homem atônito e aflito ao ver ruir o sistema no qual investiu o melhor dos seus ideais e esforços. O amor ensina a não ficar do lado bom de uma briga pobre. Ensina a encontrar a briga boa: a briga pela construção de uma nova ordem de integração entre subjetivo e objetivo, ciência e fé, oriente e ocidente, política e existência, justiça e liberdade, na qual há mais arte e menos competição, mais vida e menos morte. Uma pessoa preparada para o amor é muito mais perigosa para o status quo repressivo do que uma pessoa preparada para o ódio, a guerra ou o combate.



Este texto é de Artur da Távola

Arte: Ísis por Joseph Skala

Comments


bottom of page