Dukkha e Sukha
- Sensei Aline Keny
- 9 de ago.
- 4 min de leitura

Dukkha e Sukha
Sempre tive facilidade em decifrar meus próprios sentimentos e, como boa empata que sou, também os dos outros. Por já ter experienciado muitas dores da alma, ao curar parte das minhas inúmeras feridas e mazelas (inclusive as ancestrais), fui me habilitando a acolher, respeitar e curar os lugares de dor nas pessoas.
Acessando como me sinto, lá no fundo, posso falar de mim sem entraves e medos desnecessários. Contudo, um dos maiores desafios em ser uma terapeuta é falar de mim ao público, é um desnudar do ego, cura de vieses do orgulho e da vaidade (pode parecer simples, porém não é bem assim).
Pelo budismo, quando a vida não está satisfatória, estamos vivenciando dukkha (impermanência/desconforto/quando as coisas não vão do jeito que gostaríamos), que é o oposto de sukha, quando tudo vai de vento em popa, com suavidade. Pois bem, nos últimos nove anos venho vivenciando dukkha (almost all the time) e muita coisa aconteceu nesse período de intenso crescimento espiritual. Resumindo bastante, essa jornada exige inúmeros desapegos, e não é nada simples para uma taurina ser “desapegada”. Outro ponto é que aprender a amar é muito difícil, dado que é fácil ser bom e amar quem é bom conosco e nos ama. O maior desafio é amar e ter compaixão por quem ainda não aprendeu a se amar, porque, se não nos amamos e não nos respeitamos de verdade, somos incapazes de qualquer amor verdadeiro pelos outros. De toda forma, ter compaixão e compreensão inabaláveis por padrões negativos em nós e nos outros não significa ser espiritualizado.
Continuando a história, de setembro de 2019 para cá, as coisas se intensificaram e isso mexeu com minha autoestima. Por mais que eu já tenha aprendido que meu valor é intrínseco a tudo que é externo, quando os espelhos do mau carma de vidas passadas refletem o contrário do que sou hoje, é difícil para o ego não se identificar.

Vivenciando inúmeros desafios, a autoestima acaba baixando e, com baixa autoestima mesmo (que é como estou no momento...), procuro sempre me cuidar. Sinto que estou em vias de um renascimento espiritual e já aprendi que posso cuidar do meu ego, que precisa de cuidados e carinho, da mesma forma como cuido do meu espírito. Quando tirei a foto acima, utilizei os mil braços de Kuan Yin (que sempre me serviram) e me arrumei: me maquiei, escovei o cabelo e fiz as unhas (como é bom a gente se cuidar com amor na matéria). Sei que é acessório e talvez até ilusório, mas aprendi a respeitar meu ego e gosto de ter boa aparência, da mesma forma que gosto de ficar livre, sem maquiagem, curtindo sol na cachoeira. Eu não preciso ser uma só, de um só jeito. Posso mudar de ideia, de opinião. O importante mesmo é estar bem e ser feliz (sem me prejudicar ou prejudicar a ninguém, é claro).
Como o tema de hoje se refere à baixa autoestima, deixo aqui, por escrito (com firma registrada em cartório), que nos cuidar bem e com amor é para o resto da vida e exige certa disciplina. Alimentar-nos com alimentos vivos e saudáveis, fazer atividade física com constância, embelezar-nos, arrumar-nos e tirar um tempo só para nós: tudo isso é espiritual. Viver na matéria é espiritual. Quando nos amamos e nos aceitamos como somos, saímos da energia da comparação, da competição e da inveja. Sabemos que, lá no fundo, temos tudo de que realmente precisamos; a nossa própria força está lá. Eu me comparo comigo mesma: estou melhor hoje do que estava ontem, em relação a como me sinto comigo mesma? O tempo passa, as rugas vão chegando e nem por isso preciso deixar de me amar ou falar coisas negativas sobre mim mesma. Eu me trato com amor e respeito. Uso, sempre que necessário, as afirmações positivas de Louise Hay; aprendi sobre autoestima com ela. Vale muito ler seu livro VOCÊ PODE CURAR SUA VIDA. Autoestima é algo construído aos poucos e, em certos momentos, ela estará alta; em outros, nem tanto. Entretanto, quando as coisas não vão bem, a gente se pega no colo e se cuida com amor. Quando minha autoestima baixa, eu corro para a prática de afirmações positivas, sejam as de Louise ou as que eu mesma crio.
Bem, por aqui, sei que tudo o que precisamos transformar é a nós mesmos. E sei também que sukha está chegando, considerando que sempre plantei boas sementes. Me conheço, conheço minhas intenções, conheço meu coração e sei que ele é bom!
Com amor,
Sensei Aline Keny
Nota: Carma ou karma são sementes que plantamos e que vão germinar em algum momento, nesta ou em outras vidas. Carma é a intenção (chetana) por trás da ação. O que conta é a intenção. Cada ação intencional de corpo, fala e mente planta as sementes que colheremos no futuro, o que define os nossos aprendizados. O amadurecimento dessas sementes é chamado vipaka (resultado do carma). As leis de ação e reação regem o nosso caminho aqui na matéria. Se não houver carma (positivo ou negativo), as pessoas não se encontram. Todavia, plantamos nosso futuro agora, no momento presente, através das nossas melhores ações.
Fonte de pesquisa sobre o budismo: Livro ‘No Coração da Vida – Sabedoria e compaixão para o cotidiano’, pela Jetsunma Tenzin Palmo.
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